sábado, 11 de agosto de 2012

Vai e volta com as ondas



Carol London
Num instante descubro que eu nada tenho.
Tudo o que eu pensei que fosse meu, me veio como um empréstimo. Não sei qual é o prazo para que fiquem e mesmo que eu insista, tudo simplesmente vai. Como a água que junto em minhas mãos em concha e ela escorre entre os meus dedos.
É inevitável.
Eu me preocupo com o tempo, embora eu saiba que deveria aproveitar o que está aqui comigo hoje. Mas quando o que me apropriei parte no momento lançado ao acaso, é uma grande tragédia! E mesmo se eu estiver preparada pela partida, o sofrimento antecede-se inconsolavelmente e estende-se por mais tempo.
De repente penso que tenho tudo novamente, mas no seguinte segundo assisto o que eu pensava ter, ser levado como que com a maré...
O que me resta é sentar e esperar.
Acredito que de alguma forma o que vai volta...
Carol London
Como um brinco perdido no mar que, as ondas se encarregam de trazer de volta a areia, pela manhã.
E no novo tempo, quando tudo o que eu esperei, volta com as ondas e então eu percebo que já não me serve mais, isto significa que eu superei.
Então me levanto e retomo a prática diária do apego e desapego e, descubro mais uma vez que, portanto, eu nada tenho...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Embarque


Ilustração: Janaina Baldacci
Era um homem velho na estação a espera do trem. Não tinha idéia para onde estava indo, só sabia que iria.
 Enquanto o trem não contornava, as folhas da árvore ondulavam conforme o vento e caiam ao chão. Era dia, mas a estação continuava estava vazia, como numa manhã de feriado.
Os fios brancos rareavam na cabeça do velho, o seu rosto era pálido e enrugado, “Rugas de sorrisos” pensava ele.
Numa das mãos segurava uma maleta de couro gasto, onde guardava suas ruínas. Olhos opacos e acinzentados mantinham-se firmes na direção em que viria o trem.
Num instante, olhou para o relógio preso ao pulso esquerdo. O pulso palpitava no compasso dos ponteiros dos segundos. Percebeu que já havia passado muito tempo naquele lugar, porém, não estava mais ansioso com a demora. Era certo o que trem viria, mais cedo ou mais tarde.
Ilustração: Carol London
Sentindo o peso dos anos sobre as costas, o velho resolveu se sentar. Havia um banco vacilante, de madeira corroída por cupins, na plataforma. Foi onde o velho se apoiou e descansou as pernas. Seus ossos emitiram estalidos e ele involuntariamente grunhiu.
Já não era o mesmo, não era o jovem forte e heróico que fora na época de combate. Pensando melhor, talvez nunca fora tão heroico assim...
Lançando, agora, os olhos a sua esquerda e mais adiante, revira o túnel escuro que tanto lhe intrigava. Imaginava o que poderia haver depois do breu.
“Quem sabe um lugar melhor pra se morar, onde houvesse mais cores e o sol sorrisse mais vezes...” pensou e até pegou-se num sutil sorriso. “Um lugar de paz... um lugar que se sonha ainda em vida.”
E isso era o que ele queria acreditar, mas não se achava digno para desfrutar desta idealização, bom, melhor manter as esperanças.
O velho abriu a maleta. Havia um broche de honra ao mérito, que usara preso ao uniforme quando fora soldado. De repente o velho sentiu sua consciência latejar.
A guerra era o pior dos seus devaneios. Nunca vira tanto medo e sofrimento e tudo para defender uma ideologia sem sentido.
E o velho se entristecera ao relembrar o mal que fizera aos homens que um dia ele considerou inimigos, mas que na verdade eles eram tão inocentes e tão culpados quanto ele próprio...
Foto: Tatiana Bicalho
O velho voltou a vasculhar a maleta a procura de uma lembrança boa, e só encontrou o que procurava no bolso da calça. Seu coração deu um salto quando tocou no metal de um anel, pois não era qualquer anel, e sim o que tinha a gravura do nome de sua amada.
Beatriz.
Ele a conheceu numa primavera e desfrutou de um longo e intenso verão ao lado dela. Mas logo chegara o outono e em seguida um rigoroso inverno e Beatriz teve de embarcar no trem. A esta altura, ela já deveria saber o que há além do túnel...
Sentindo-se comovido pela saudade o velho chorou o resto das lagrimas que ainda lhe sobravam. Sua respiração tornou-se difícil e então um vento frio cortante veio lhe agredir e ele se encolheu. Sentia dor, uma sensação aguda que parecia lhe rasgar a pele e lhe esfriar o sangue.
Então, o trem veio se aproximando.
Um estranho desespero invadiu o velho. Por um momento pensou em desistir de embarcar, mas sabia que não poderia. À medida que o trem se aproximava, o mal estar se intensificava, até que de repente, como num baque, tudo passou.
A ultima folha seca da arvore, o vento derrubou e o trem parou na estação, abrindo as portas para o velho embarcar.
Ilustração: Janaina Baldacci
Quando o trem chega, não resta nada a fazer a não ser aceitar...
E o velho sentiu persuadir-se pelo trem, ao imaginar a viagem que estava preste a fazer... Porém, hesitante, ele se levantou, deixando sua maleta e o anel sobre o banquinho.
Estranhamente sentia-se bem, sentia-se mais leve. Havia um cheiro gostoso no ar, como o de uma fruta que ele desconhecia. Ao mesmo tempo, era um cheiro de nostalgia.
E então, o velho caminhou até o vagão, despindo-se de todas as antigas memorias, permitindo a mente esvaziar.
Não olhou para trás nenhum segundo. Então ouviu o sinal, e as portas iriam se fechar.
Finalmente o velho adentrou o trem e então se entregou ao que seria o começo de uma nova e grande viagem.

domingo, 6 de março de 2011

A imagem como bolinhos

Será que você é o que você pare ser?
Nem sempre...
Entretanto, você não passa de uma imagem para quem não o conhece.
E é assim para todos nós!
Influência da cultura narcisista?
Nem tanto!
A imagem que você apresenta pode não lhe definir completamente, mas as outras pessoas, sempre contarão com ela para tirar as próprias conclusões a seu respeito.
O impacto da primeira impressão pode reforçar a sua imagem tanto quanto pode distorcê-la.
E isto assusta a muita gente!
Mas, quem nunca fitou um bolinho confeitado na padaria e ficou maravilhado, imaginando ser uma delicia, mas quando o devorou... Que decepção?!

Eu caí no truque do bolinho de chocolate trufado, na faculdade. Esteticamente era divino, mas foi desastroso quando descobri que por dentro ele estava mofado... (vomitei!)
Em compensação, fui surpreendida por um maravilhoso pão de mel (o qual nunca eu fui muito fã).
Parece fútil, mas o ser humano tende a julgar pela aparência e criar expectativas (ou nenhuma) até sofrer a desilusão, o que também pode ser uma ótima experiência... Por que não?
E se o bolinho confeitado for melhor do que você imaginou?
Porém você nunca vai saber se não experimentar!
Pense nisso!

Carol London